— Seu filho admira o que você faz? — lancei a pergunta à queima-
roupa a um gerente de produção, enquanto caminhávamos pela fábrica
que ele supervisionava. Ele parou, olhou para mim e seu rosto
iluminou-se com um sorriso.
— Muito! — foi sua resposta entusiasmada.
Estávamos na área de produção de uma indústria de capacetes. Um
pouco antes passávamos pelo show-room — capacetes de todas as
cores diante de grandes pôsteres de motocicletas de corrida. Um
cenário que faria qualquer garoto sonhar.
Minhas perguntas não pararam ali. Queria saber mais das impressões
de seu filho. Pouco a pouco aquele gerente contente passou a jorrar
seus valores, os mesmos que tornavam seu trabalho tão importante.
Na visão de seu filho — e em sua visão também — ele ajudava a
salvar vidas nas ruas e a conquistar prêmios nas competições.
Depois de cada turno na fábrica, podia ir para casa de cabeça
erguida com a missão cumprida para subir o lugar número um no
podium da admiração do filho.
Antigamente as empresas acreditavam que tecnologia era suficiente
para garantir um diferencial. Essa época passou. Tecnologia pode
ser criada, adquirida ou até copiada e qualquer diferencial
tecnológico acaba se transformando em commodity com o tempo. O que
faz a diferença são as pessoas, que trabalham e produzem para
encantar pessoas. Afinal, era Ayrton Senna quem ganhava as
corridas, não o seu carro. Construir uma réplica de seu carro é
possível. Clonar um campeão não.
Quem percebeu a importância que gente tem nas empresas correu
definir uma visão, missão e valores que levassem em conta as
pessoas do lado de lá do balcão — os clientes. Infelizmente a
maioria das empresas não foi além da criação de frases bonitas para
enfeitar a enfeitar as paredes do edifício e até o sistema de som
ambiente, frases feitas que pouco ou nada tinham de realidade
interna. Será que as pessoas que todos os dias passam em frente a
essas frases bonitas realmente incorporam isso em seu dia-a-dia?
Nem todas.
Será que é a empresa que determina os valores que as pessoas que
nela trabalham devem ter, ou são as pessoas que definem a
personalidade e caráter de uma empresa? A resposta é evidente. Uma
empresa — sua marca, seus produtos e serviços — é o resultado
direto das pessoas que a criaram e que todos os dias a transformam
em realidade. Uma estratégia de marketing restrita aos 4P’s —
Produto, Preço, Promoção e Praça — será quadrúpede se não
considerar, em primeiro lugar, gente que anda com os dois pés no
chão e os olhos no infinito.
Todavia há empresas que muito bem sucedidas em seus esforços, não
por criarem um quadro bonito contendo uma lista de valores, mas por
terem conseguido extrair de suas equipes seus valores essenciais,
assim como se extrai a essência das rosas. Foram buscar nas pessoas
o que realmente fazia a diferença na marca que essas pessoas
levavam. Perguntaram de suas paixões, de seus apreços, de suas
realizações; quiseram saber o quê, em seu trabalho, era motivo de
admiração para seus filhos. E conseguiram.
Conversei com uma garota que trabalhou durante meses numa
indústria de biscoitos. Antes de trabalhar lá ela adorava
biscoitos, mas o convívio diário com os diferentes cheiros e
sabores acabou enjoando seu paladar. Hoje ela não trabalha mais lá
e nem quer ouvir falar em biscoitos. Fiquei intrigado. Será que
isso acontece com qualquer pessoa? Alguém apaixonado por carros
perderia seu gosto pela paixão após trabalhar na indústria
automobilística? A resposta eu vi na TV. Na tela o repórter
entrevistava um jovem trabalhando na produção de uma fábrica de
bombons.
— Já enjoou de tantos bombons? — perguntou o repórter esperando
uma resposta afirmativa.
— De maneira nenhuma! — exclamou o rapaz, como se a pergunta
fosse absurda. — É impossível não gostar deste bombom! Tem o
recheado com morango, o recheado com baunilha…
E assim continuou ele, falando para milhares de telespectadores
com os olhos brilhantes daquela satisfação que só pode nascer da
paixão. Senti até vontade. Ali estava alguém que acrescentava sabor
à marca que representava. O repórter nem precisava perguntar onde
estava o quadro com a visão, a missão e valores daquela empresa.
Estava bem ali, na sua frente.
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