Estou lendo 1808, do Luarentino Gomes, que conta a história da fuga de D. João VI para o Brasil. Ainda estou nos primeiros capítulos, mas o texto é empolgante e o episódio da fuga da aristocracia portuguesa me lembrou um famoso poema do Manuel Bandeira, afinal, quem não quer ser amigo do Rei?
Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel BandeiraVou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tiveE como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra PasárgadaEm Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorarE quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada¹.
Referência
- Releituras: Vou-me Embora pra Pasárgada, Texto extraído do livro Bandeira a Vida Inteira, Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90