Como você se informa?


information overload (Marina Noordegraaf /flickr) – CC BY-NC-SA 2.0

A polarização da sociedade aumenta a cada dia, passando diversos assuntos, desde o debate sobre o impeachment da Presidente Dilma ao fornecimento da fosfoetanolamina para pacientes com câncer, presenciamos o forte embate entre os defensores de cada posição.

Outro dia participei de uma conversa que ficou acirrada por causa da comparação entre o número de pessoas que participaram das manifestações contrárias e a favor do impeachment em março de 2016. Quem contou? Qual o critério? como foi divulgado?

É impossível que para cada fato que ocorra nós façamos a apuração com os envolvidos, além de não termos acesso à muitas áreas, temos que nos dedicar a nossos outros compromissos, impossibilitando a apuração de cada fato, quanto mais a extensão de um protesto que ocorreu em centenas de cidades, ou de um atentado em uma cidade localizada em outro continente.

Jornalistas e advogados tem papéis parecidos: partindo de uma série de fatos esses profissionais organizam as informações, selecionam as relevantes e explicam ao público o que ocorreu, incluindo a repercussão do fato. Dos advogados se espera que privilegiem os fatos favoráveis aos clientes que defendem, em detrimento dos demais fatos.

Sim, jornalistas – ao contrário dos advogados – não defendem um lado,  seu papel ético está na transmissão da informação com imparcialidade[6], oportunizando ao público o contato com posições antagônicas para este se informe. Mesmo que todos os jornalistas seguissem rigidamente as melhores práticas da profissão, ainda fariam uma seleção dos fatos, concatenação, etc. Essa seleção é subjetiva.

Sobre o poder do jornalista, sua responsabilidade na apuração e transmissão de fatos, assista o clássico A Montanha dos Sete Abutres.

Entre os milhares de fatos, quais serão relevantes a ponto de ser objeto de reportagem? O filtro não ocorre somente na elaboração da reportagem. Dessas pautas, quais as mais importantes, que merecem maior aprofundamento?

Pois bem, é essencial contratar um curador para selecionar as notícias. E aí? Quem é que faz o seu clipping? O editor da Folha de S. Paulo, da Carta Capital, Globo, CNN, Valor Econômico, Bandeirantes, CBN, do jornal da sua cidade? Será que ele tem a mesma visão que a sua? e a imparcialidade?

Basta ler/ ouvir /assistir por alguns dias veículos diferentes do que estamos acostamos para notar diferenças na forma como as notícias são selecionadas / divulgadas. O cinema já mostrou diversas vezes o poder desses editores, como no Cidadão Kane ou o brasileiro Assis Chateaubriand (livro / filme).

Os grandes veículos de comunicação passam por uma grave crise, relacionada a Internet, seja pela pressão por conteúdo grátis, seja pelo excesso de informação disponível ou pela busca da audiência em detrimento da qualidade, há telejornais que colocam fundo musical para aumentar o impacto emocional das notícias.

Sobre o momento atual, de busca frenética pela audiência como principal critério para escolher as matérias, foi retratada no filme O Abutre.

Os números indicam o crescimento contínuo da opção pelo Facebook como curador das notícias, ou seja, trocaram o editor pessoa física por um algorítimo programado sabe-se-lá com qual propósito para selecionar as notícias.

Caro usuário da internet, você já notou como as notícias que você vê são as que mais te interessam? Ao contrário dos outros meios, é raro ler matérias sobre equipes adversárias ou campeonatos de outros estados? Que estranhamente seu feed é repleto de notícias semelhantes à sua visão política?

Pois é. Os filtros tecnológicos utilizam critérios como popularidade da notícia e o seu gosto para selecionar o que será exibido, é por isso que tem tantos cachorrinhos, bebês e piadas na sua timeline e raríssimas informações sobre empresas que entraram em recuperação judicial ou faliram neste inicio de ano (Itapemirim, Luigi Bertolli (GEP), Abengoa,  Mabe – Dako, Continental e GE), entre outras matérias relevantes, mas indigestas.

Em 2008 o Gil Giardelli já comentava a expansão da internet e os desafios decorrentes. E o desafio continua, afinal, além da gestão de conteúdo, cresce o volume das informações sem qualquer fonte, criadas somente para sustentar posições e confundir as pessoas menos informadas.

E pessoas menos informadas somos todos nós, alienados pelo excesso de informações, pela curadoria tendenciosa e a população de posts sem qualquer importância, como fotos de celebridades fazendo caminhadas na praia, entre outros entretenimentos visando retirar seu trabalho de refletir.

Não, o mundo não precisa ficar restrito ao debate sobre ensaios, teses acadêmicas, etc. É necessário somente de um maior equilíbrio, começando por nós, passando por aquele que elabora a reportagem até o que determina a exibição do conteúdo. Chega de criticar quem simplesmente tenta abrir nossos olhos para os argumentos da outra parte.

Ninguém ganha jogo dividindo o time, muito menos obrigando todos a jogarem na mesma posição.

Saiba +

  1. Foto: information overload (Marina Noordegraaf /flickr) – CC BY-NC-SA 2.0
  2. Jonh C. Dvorak – O Google é inútil – Revista Info ed. 281 [2009]
  3. Álvaro Oppermann – O oráculo do Facebook – Revista Info ed. 308 [2011]
  4. Estadão [2015] – Estudo indica que Google manipula resultados de buscas 
  5. Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República – Pesquisa Brasileira de Mídia 2015
  6. FENAJ – Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros