Comunicação: queremos controle


Foto: Photl.com

O Tiago Dória escreveu sobre o livro Alone Together, da pesquisadora  Sherry Turkle. São 15 anos de pesquisa sobre comportamento humano e web:

Uma das principais conclusões tiradas pela autora – o que mais fascina as pessoas com a comunicação via web é a possibilidade de maior controle sobre as conversas, e não a velocidade.

Com as plataformas de redes sociais, podemos encerrar um relacionamento na hora que quisermos, basta dar um “block”. No email, podemos responder ou descontinuar uma conversa quando for mais conveniente. No SMS, temos tempo de pensar em uma resposta.

Enfim, a web nos deu um controle maior sobre a conversação. Detalhe que explica porque adolescentes não gostam de receber ligações de telefone por voz. Na ligação telefônica, tudo acontece em tempo real, você não tem tempo de pensar em respostas ou graduar a emoção (1).

Sempre considerei que a grande vantagem da comunicação via web era a disponibilidade, afinal, podemos nos comunicar a qualquer momento, mesmo que a outra pessoa não esteja presente. Minha esposa comentou sobre o custo baixo como a principal vantagem.

A conclusão da Sherry Turkle é mais correta: o controle da comunicação faz toda a diferença, podemos nos relacionar de forma mais racional, reduzindo conflitos. Por outro lado, pasteuriza as relações, fica tudo cinza, sem emoção. O excesso de preocupação em não ferir ou magoar as pessoas se transforma em falta de sentimento, frieza.

Hoje em dia, fala-se tanto em “comunicação em tempo real”, mas o que as pessoas gostam mesmo é de comunicação no seu ritmo – poder escolher quando responder, evitar o inesperado ou assuntos e pessoas que não vão ao encontro do que gostamos.

Por esses motivos, a comunicação via web é tão agradável (1).

Essa racionalização das comunicações também reflete na forma como a pessoa se comporta na web, incentivando a criação de personagens, exibindo nos perfis o “querer-ser”: a pessoa que imaginamos ou que gostaríamos de ser.

Montar um perfil no Facebook é mais uma performance do que qualquer outra coisa(1).

Muitas pessoas se esforçam para manter uma imagem tão “cool” na web, que seus perfis e comentários soam estranhos a quem tem contato diário com eles, alguns eu evito contato virtual pois o personagem é irreal. Muitos baladeiros virtuais só saem de casa a cada quinze dias e olhe lá.

A facilidade de agregar amigos banaliza o conceito de amizade, das centenas de amigos, quantos são realmente amigos? Estamos mais próximos ou distantes? Você já teve vontade de enviar um recado para seus amigos e não poder fazer nas redes sociais pois nem todos “amigos” deveriam receber a mensagem?

O tempo gasto para manter a presença virtual afeta a vida das famílias assim como a chegada da televisão afetou, muitos filhos já reclamam que seus pais passam mais tempo na web do que com eles. Meus pais limitaram o tempo que assistiam televisão, para não criar nos filhos a mesma frustração que tiveram com seus pais, o mesmo devo fazer com meus filhos, mas temo não ter percepção suficiente, pois não fui criado nas casas digitais que passamos a ter.

Segundo Turkle, estamos cada vez mais decepcionados com as pessoas que estão próximas de nós (seja no trabalho ou em casa). E esperamos que as tecnologias façam mais por nós do que elas (enquanto que o correto deveria ser o contrário).

Referência

  1. Tiago Dória Weblog: Esperamos mais das tecnologias do que das pessoas?
  2. Overmundo: Querer ser e o dever de ser cidadão