A perda de representatividade dos sindicatos


strike

Um ponto em comum nas greves da última década, independente da categoria, é queda na adesão dos empregados e com isso menor impacto na sociedade.

Claro que a tecnologia é um fator que contribui para a menor repercussão das greves, o setor bancário é um dos mais afetados por isso. Também contribui a maior rotatividade dos trabalhadores, mas o principal motivo é a redução da representatividade dos sindicatos.

Algumas negociações coletivas são concluídas de forma contrária aos interesses dos trabalhadores, o que tem provocado diversas ações do Ministério Público do Trabalho para anular dispositivos desses acordos.

O novo fenômeno são greves promovidas pela categoria sem a participação dos sindicatos, uma aberração. O que ocorre? Almir Pazzianotto resume as mudanças sofridas pelos sindicatos:

Até o golpe de 64, o movimento sindical era ideológico, era dividido ideologicamente. Tinha a esquerda e os conservadores. Hoje, o movimento sindical ficou reacionário, porque ele não aceita a necessidade das reformas. Além de reacionário, o movimento sindical é pelego, porque vive de contribuições obrigatórias. Se tirar essas contribuições, esse movimento desaparece em três meses. Mas quando ele ressurgir, ressurgirá forte e representativo[3].

Os dirigentes sindicais estão matando o movimento sindical. Na medida que eles se apelegaram, estão matando o movimento. O que para eles não importa. O movimento sindical não é ideológico, é apenas oportunista. Você quer decepção maior do que se tornou a CUT, braço direito esindical doPT. Eu não vejo aCUT se insurgindo contra toda essa onda de corrupção, que compromete o governo[3].

Infelizmente os sindicatos se tornaram um negócio, fonte de renda, em virtude das contribuições obrigatórias. Mais de 8.500 sindicatos brasileiros possuem há mais de uma década os mesmos dirigentes [2]. Trata-se de um negócio com faturamento garantido, visto a receita ser certa e o custo operacional é pequeno.

Outro fator que atrai pessoas mal intencionadas a buscarem a direção de sindicatos é a ausência de fiscalização, assim como a legislação procura intervir o mínimo possível na organização dos sindicatos, legislação originada do combate à repressão sofrida pelos sindicatos nos períodos não democráticos.

Por fim, há o problema do Brasil não permitir a liberdade sindical, sequer aderiu à Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que trata do direito do trabalhador se sindicalizar e optar livremente pelo sindicato.

O modelo atual não representa os trabalhadores, já parte do valor arrecadado à força dos trabalhadores é empregado para financiar a campanha de diversos políticos, acarretando num poderoso lobby no legislativo que impede qualquer alteração que reduza os poderes desses dirigentes.

É necessário acabar com a unicidade sindical, permitir ao trabalhador se filiar ao sindicato que melhor lhe represente (assim aqueles que verdadeiramente lutam pela categoria receberiam maiores repasses) e acabar com qualquer contribuição obrigatória, especialmente dos trabalhadores não sindicalizados.

Saiba +

  1. Foto: Dancing Teacher’S Strike – September 9, 1949 (Francis Miller / Life)
  2. Brasil Post: Mais de 8.500 sindicatos de trabalhadores no Brasil possuem o mesmo presidente há mais de 10 anos, diz jornal
  3. SEIXAS, Beatriz – Entrevista Almir Pazzianoto – A Gazeta – ed. 02/08/2015 – Vitória – ES – pg. 26
  4. O Globo: Dirigentes sindicais se eternizam no poder
  5. O Globo: Sindicatos: Caixa-preta se torna a marca registrada
  6. Fantástico: Dirigentes de sindicatos enriquecem com desvio de dinheiro