Pedro bandeira: o livro não vai acabar


Há alguns meses ouvi em uma estação de rádio a propaganda da Revista Língua Portuguesa, que não conhecia. A primeira edição que li trouxe uma entrevista com o Pedro Bandeira [1].

Uma das questões levantadas foi sobre datar as histórias. Nunca me preocupei com essa questão, mas produzir textos de ficção sem datar a obra aumenta as chances dela permanecer em uso por muito tempo:

Tenho de usar aquilo que nunca muda: as emoções humanas. Por que Shakespeare vale até hoje? Porque ele não faz histórias de reis ingleses, mas sobre sonhos, inveja, cobiça, ambição, velhice, paixão de dois adolescentes… Faz histórias eternas, que não dependem da tecnologia. Até hoje você lê Ricardo III e fica impressionado, por ser um homem que faz tudo pela ambição do poder – isso existe até hoje. A emoção de um jovem nunca mudará. Uma menina vai estar sempre apaixonada, vai ter sempre ciúmes da colega, vai ter medo do mundo, vai ter problemas com os pais que se separam. O furor uterino da Madame Bovary jamais será ultrapassado – é até hoje um romance atemporal. Hoje em dia se discute até que Lobato tem dificuldade de se tornar um clássico. Porque ele centrou muito na vida rural quando o Brasil já estava se tornando urbano.

Sobre o impacto da tecnologia nos livros, a visão do Pedro Bandeira é próxima da minha:

Nos países onde a tecnologia é mais adiantada, como Alemanha e Estados Unidos, a venda de livros só aumenta. Quando surgiu a televisão, diziam que ela iria matar o rádio, e o rádio está aí, cada dia mais vivo. Antes eu tinha a enciclopédia, agora tenho a Wikipedia. Podem dizer que, por falta de papel, o livro venha a ser substituído pelo livro eletrônico. Talvez mude o veículo, mas sempre vão precisar de um Pedro Bandeira para escrever histórias.

Não podemos confundir o conteúdo com o canal, o meio utilizado para transmitir a mensagem. Os suportes da informação estão em permanente evolução, já o conteúdo relevante permanece e temos que nos esforçar para manter a informação disponível.

A Biblioteca da Universidade São Francisco (Bragança Paulista) possui uma área dedicada á preservação de livros raros / históricos, evidentemente o departamento é de acesso restrito. O conteúdo desse acervo deveria ser digitalizado para permitir que qualquer pessoa faça pesquisas em danificar o acervo.

Sempre que penso no perigo de restringir o acesso à informação eu lembro do O Nome da Rosa.

Referência

  1. Fugita, Fábio. A história atemporal. Língua Portuguesa, nº 67, maio de 2011, pág. 10