Despoluição do Rio Juquery 2


No fim de 2003 estive no Seminário As Águas e o Desenvolvimento Sustentável no Vale do Juquery e Serra da Cantareira, realizado no Centro de Convenções da Natura em Cajamar, cujo objetivo era lançar o projeto Juca Vivo, de incentivo à despoluição do Rio Juquery.

O Rio Juquery integra o Sistema Cantareira, responsável pelo fornecimento da maior parte água consumida na Grande São Paulo. O leito do Juquery é utilizado para levar a água do reservatório localizado em Nazaré Paulista por gravidade até a Represa Paiva Castro, em Mairiporã. Na Paiva Castro há a impressionante Estação Elevatória Santa Inês, que bombeia a água há 120 metros de altura para vencer a Serra da Cantareira para alcançar cidade de São Paulo.

Voltando ao Juquery, após a barragem da Paiva Castro ele perde grande parte da sua vazão e passa a receber esgoto industrial e doméstico de várias cidades, como Franco da Rocha e Cajamar. Tratar esse esgoto foi tema do Seminário realizado em 2003,  o Engenheiro José Julio Pereira, da Sabesp, fez um comentário que nunca esqueci, quando temos que analisar números em projetos de despoluição:

A SABESP é uma grande empresa de saneamento que promove o saneamento e a saúde. Ela tem um índice de atendimento como poucas cidades do mundo têm. Fornece praticamente 100% de água, coleta 90% dos esgotos nas cidades em que opera, em média, e está tratando hoje perto de 70% de esgotos. Tem investido imensamente, tanto com recursos próprios ou financiados na despoluição dos fluxos de água (4).

Esse tipo de comentário precisa ser analisado com atenção. Na sequencia do Seminário, Romildo Campelo, representando a FIESP/CIESP, esclareceu a informação da Sabesp:

O que aconteceu com a Grande São Paulo, quando vemos por exemplo aquele quadro dantesco da espuma. Aquela espuma decorre do sabão em pó que usamos em casa. O sabão em pó é produzido pela indústria, mas é utilizado por cada um de nós nas nossas casas. E cada um de nós, pelo que o Superintende da SABESP falou, paga à SABESP para tratar esse esgoto, ela recebe dinheiro e infelizmente não consegue tratar. Ele disse que trata 70%, mas é o chamado sofisma, quer dizer, ele partiu de um principio errado chegando a uma conclusão errada e dando a impressão que estava falando certo. Ele disse que trata 70% dos esgotos coletados. Acontece que ele não coleta 100% dos esgotos. Vejam bem, só a Guarapiranga tem 750 mil pessoas no seu entorno jogando esgoto in-natura dentro dela. Então vejam bem: a Guarapiranga não é um manancial de fornecimento de água potável, é uma lagoa de oxidação de esgotos  (4).

Atualmente a principal causa de poluição do Tietê e seus afluentes, como o Juquery, é o esgoto doméstico não tratado que é despejado em suas águas. No Seminário em 2003, a Sabesp, através do Nelson Beviláqua, apresentou seu plano para tratar o esgoto na região do Juquery:

Mairiporã é o único município que possui ETE pública, e ela atualmente está sendo reformada e, após isso, irá tratar 70% dos esgotos. Os outros municípios terão um sistema único de tratamento, de ETE, localizado em Caieiras, próximo à divisa de F. Rocha. É uma ETE da Cia. Melhoramentos, próximo ao Rio Juquery. A primeira etapa prevê o tratamento de 500 Lts/s e para o final 1900, com custo estimado em R$ 35 milhões. E em Cajamar 13 Sistemas. Cajamar terá um sistema único, que chamamos de sistema compacto, e a SABESP chegou a conclusão, pelo estudo de viabilidade econômica, que uma única estação atenderia todo o município. O montante de investimento nessa bacia é de R$ 179 milhões. Aqui há alguns dificultadores para o Vale do Juquery: investimento elevado, ocupação elevada em fundo de vale, que é um dos grandes problemas da região, porque há dificuldades em se passar com os coletores nessas áreas, que dependem de tratativas com as prefeituras locais, de readequação das famílias, pois ali, às vezes, é o único lugar possível de se passar com os coletores. Além disso, a necessidade de um trabalho intensivo de educação ambiental, pois vimos que, apesar disso, a população continua jogando lixo nos córregos. Porque não basta apenas coleta, afastamento e tratamento, tem de haver um trabalho intensivo de educação ambiental com a população. Aqui, uma localização geral, o sistema de Perus, que abastece a parte Norte, que está projetado para atender essa área de Perus, Jaraguá e Pq. Anhanguera. São várias EE , coletor tronco, e vai levar tudo para ETE Barueri. Essa reversão irá ser feita, está no projeto Tietê e há possibilidade de ela entrar na segunda etapa também. Está sendo analisada essa possibilidade, que trará uma grande melhoria para essa bacia, que drena também para o Juquery. Esse é o lay-out da ETE Perus. É na área do Clube de Campo da Cia. Melhoramentos. O sistema previsto atende a legislação para lançamento de classe 3. Aqui também a situação geral do de Cajamar. Aqui a ETE e aqui a área. Esta ETE também receberá uma parte de distribuição de Santana do Parnaíba. Aqui são dois sistemas, sistemas isolados. Aqui o sistema Jordanésia, que prevê a captação desde a Penitenciária de F. Rocha, o coletor aqui, e vai lançar à jusante da ETA, CDHU no centro de Jordanésia, e aqui no Gato Preto local de tratamento, e aqui tem uma idéia de formar uma estação temática, como Instituto da ferrovia (4).

Para a minha surpresa, passados mais de 7 anos, a despoluição do Juquery avançou muito pouco. Somente em 2010  a Sabesp confirmou o investimento de R$ 669 milhões para tratar o esgoto da Região (2), iniciando as obras em 2011. São obras de grande porte, alguns anos passarão até a sua conclusão.

Referência

  1. Foto: Poluição no Juquery – 2011 / IFPPC
  2. IPEH: Seminário Juca Vivo de despoluição do Juquery reúne centenas de pessoas na Natura;
  3. DAE: Sistema Cantareira;
  4. IPEH: O Programa Juca Vivo – Notas taquigráficas do seminário que inaugurou o programa;
  5. Sabesp: Região norte da Capital e da Grande São Paulo terão investimentos de R$ 669 milhões em coleta e tratamento de esgotos;